domingo, 21 de março de 2010

Artigo: O mercado gaúcho e a falta de visibilidade

Nessa semana, a notícia sobre o Santa Catarina Moda Contemporânea (através de sua cobertura pelos principais veículos fashionistas do país) e um tweet da RP de moda Juliana Laguna acenderam uma luz de alerta na minha mente. Resolvi fazer aqui uma reflexão que eu já deveria ter feito há muito tempo: Como é a moda no Rio Grande do Sul? Quais são seus problemas e qualidades?

Rödel-La

O fato é que o mercado de moda gaúcho é visto como nulo em termos de relevância para a moda. Não que não haja lojas de roupas por aqui. Há muitas, porém são pouquíssimas as que se afirmam como marcas, grifes de moda. Mas quais seriam os fatores contribuintes para essa apatia?

Cogita-se que o problema esteja nos consumidores gaúchos, apontados como conservadores e resistentes a mudanças, o que seria totalmente paradoxal à moda. Esse perfil, embora antigo, ainda tem um fundo de verdade entre alguns públicos. Porém, ao meu ver, não corresponde aos jovens da capital, supostamente o público-alvo de quase todas as marcas de moda.

Falta de interesse por parte dos estilistas parece também não ser o problema, já que temos bons e criativos criadores (se me permitem a redundância), frutos das diversas faculdades e cursos de moda do estado. O site As Patrícias possui um espaço reservado a eles. Muitos são reconhecidos e respeitados fora do estado, mas não dentro, salvo pelos gaúchos ligados profissional e academicamente à moda.

O que falta para que Porto Alegre pelo menos comece a despontar como mercado realmente criador de moda relevante é dar visibilidade aos nossos estilistas. É aí que o SCMC citado no começo do post entra em cena: nossos vizinhos estão conseguindo sua visibilidade ao investir em seu talento, enquanto nós não possuimos eventos de moda que contribuam verdadeiramente para o mercado de moda gaúcho.

O Mix Bazaar vem perdendo sua importância por falta de renovação e, consequentemente, de interesse do público. Mas e o Donna Fashion Iguatemi? Ah, a semana de moda mais importante do Rio Grande do Sul, amplamente divulgada pelo lamentável monopólio midiático que nós, gaúchos, sofremos. Sim, esse seria o trunfo do Rio Grande do Sul se o evento em questão não fosse organizado e, portanto, limitado em termos de oportunidades, pelo mesmo veículo de comunicação super-poderoso. Tal veículo pode até vender o evento como Fashion (e afinal, marcas como Colcci e Alexandre Herchcovitch contribuem para essa concepção), mas a verdade é que esse é um evento de marketing puramente financeiro, além de não dar quase nenhuma visibilidade aos criadores gaúchos. Quase não há novidades nem contribuições para a moda nacional nesse evento.

A pluradidade das mídias sem dúvidas ajudaria na divulgação e no crescimento do mercado e, portanto, no interesse público. São Paulo, por exemplo, além de diversos veículos tradicionais em igualdade de concorrência como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, ainda possui diversos veículos apenas voltados para a moda, como os sites da Lilian Pacce, da Gloria Kalil e o portal FFW, entre muitos outros. E o que temos no RS? Praticamente um único jornal que dedica algumas páginas de domingo à moda, juntamente com um site que, ao invés de falar da moda no RS, copia os assuntos nacionais. No entanto, possuímos ótimos sites focados na moda gaúcha, como As Patrícias e Moda Manifesto. Assim como os estilistas, eles são reconhecidos "lá fora". Poderiam ser mais conhecidos pela maioria do povo gaúcho, mas são procurados mais pelas pessoas que estudam e trabalham com moda.

Se não podemos contar com a mídia tradicional para o crescimento da moda gaúcha, cabe ao próprio mercado e a seus apoiadores se auto-valorizarem, acreditarem que eles possuem algo a acrescentar para a moda nacional e investirem em seus potenciais. As barreiras econômicas podem ser vencidas através da união. Quanto à divulgação, se não possuímos veículos verdadeiramente voltados para a moda na mídia tradicional, a internet está aí para provar que não precisamos esperar eternamente pela caridade de alguém que só tem interesse em seu próprio bolso.

10 comentários:

  1. Adorei o post.

    Acho super importante que os veículos de comunicação divulguem a moda além do eixo SP-Rio, mas confesso que conheço pouco ou quase nada.
    Engraçado como a maioria das modelos vêm do Sul e a moda aí não é tão valorizada.
    Acredito que não seja culpa dos consumidores, falta apoio em divulgação, assim como outros ramos da arte.

    Mas graças a nossa querida Internt podemos diversificar e tornar pública a moda de qualquer estado e qualquer país. E é por isso que os blogs, sites e revistas eletrônicas estão ganhando cada vez mais espaço. Não tem como fugir da realidade de que quem faz o esforço maior em prol a cultura são os próprios consumidores dela.
    O negócio é não ficar de braços cruzados.

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  2. flor tava morrendo de saudade de vir aqui curtir seu cantinho!

    bjocas grandes e boa semana!

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  3. Concordo com a Fernanda,a internet é esse espaço que ainda pode ser bem mais explorado pra essa visibilidade da moda em outros cantos que não São Paulo/Rio.

    bjs,Thaís!

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  4. Adorei o post!Sério, eu li todinho e está muito bem escrito. Eu acredito que a nossa moda, o nosso mercado só não vai pra frente justamente por esses pontos citados aqui. E como eu gostaria de conhecer mais da moda gaúcha ou cearense, por exemplo. Até a mineira que é perto do Rio, conhecemos pouco!Está na hora de mudar e tanto as marcas como os veículos de comunicação precisam perceber isso. A internet pode auxiliar muito.

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  5. interessante. é raro a gente ter qualquer boatozinho sobre a moda do rs e logo eles vizinhos de sc, onde tem um mercado de moda bem extenso. cabe as marcas/designer a divulgação e marketing né. aquela velha coisa dos quatro C's. tá faltando umas aulinhas de marketing para esse pessoal! =*

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  6. já pensou em te aprofundar em jornalismo de moda? não conheço um que faça textos tão bons quanto este que lí agora.

    ah, tõ te seguindo no twitter!

    bjoos

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  7. Tomara que isso mude, queremos ver mais a moda gaúcha!!!

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  8. Ótimo post. Sou brasileira e não conheço nada além da moda que se encontra no eixo Rio-Sampa. E não acredito que seja apenas falta de oportunidade (Melk Z-Da é pernambucano e desfila no Fashion Rio) mas a falta de comunicação entre o setor e os criadores. Espero que não só a moda capixaba, como também a gaúcha, nordestina e mineira recebeam logo a atenção que lhes é merecida.
    Beijos!

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  9. Pois é.
    Me mudei pro sul pq me casei com um gaúcho e qual não é a minha surpresa quando descobri que o lugar onde se "faz as modelos" não se faz a moda.

    Estou achando o rio grande do sul muito sem vida,sinto falta da variedade de estilos que existe em sampa...(saudade).

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  10. Parabéns pelo artigo! Gostei muito, realmente ainda temos muito no que crescer no RS no mercado de moda.

    Natalia Isaia

    http://nataliaisaia.blogspot.com/

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