quarta-feira, 31 de março de 2010

Todo mundo pode usar

A globalização da moda em termos de consumo pode encontrar algumas barreiras. Uma delas é o clima. Muitas tendências internacionais são feitas para o inverno, enquanto é verão aqui. E mais ainda, em algumas regiões do Brasil praticamente não há inverno. No entanto, não acho que somos um país tropical. Somos um país continental de vários climas diferentes. O clima do Rio Grande do Sul é muito diferente do clima do Espírito Santo que é muito diferente do clima do Amazonas. Falo isso porque já morei nos 3 lugares.

Mas apesar de tantas diferenças, acredito ser possível sim que o consumo dessa moda globalizada possa ser praticado em todos os cantos do Brasil.


As regiões mais frias como Sul e parte do Sudeste não vão encontrar problemas para usar casaco de pele (falsa!), toneladas de couro e veludo e todos os desejos da temporada. A meia-calça texturizada vai poder ser usada no outono nessas regiões (porque no inverno só fio 60 pra cima né?). Os fashionistas do Centro-Oeste (em dias mais frios) e também de parte do Sudeste vão poder usufruir tranquilamente das meias-calças texturizadas, das jaquetinhas perfecto de couro e dos casacos mais leves de pele.


Mas e onde não faz nem um friozinho no inverno (tipo no Norte e Nordeste)? Aí é só adaptar as tendências que você tem vontade de usar pro calor. A meia-calça, por exemplo, muitos não usam por achar que é quente demais para o clima onde moram, mas no fim ela é mais fresquinha que uma calça jeans, não é? O couro e o veludo não precisam ser usados só em jaquetas, dá pra usar com shorts/saias. Já as peles podem sim ser usadas em golas e coletes, não pra esquentar, mas como fator de adereço. Por que não?

Então não tem desculpa, todo mundo pode usar as vontades globalizadas do momento. Sempre lembrando (apesar de vocês saberem melhor do que eu) de assimilar as tendências com seu próprio estilo pessoal.

(Esqueci de falar: o Valentino Dress saiu na revistinha do jornal Agora, lá de SP, junto com outros blogs muito muito bons:


Que honra!)

sábado, 27 de março de 2010

Artigo: Cópia ou Inspiração?

Ninguém tem dúvidas de que o popular vende. Seja na música, no cinema ou na moda. Neste último campo, o popular é antes uma tendência que, se bem aceita pela opinião pública, pode virar uma fórmula de sucesso. Foi isso que ocorreu com a Balmain. O rock-chic de Decarnin é um fenômeno comparável a Avatar 3D, no cinema ou a Lady Gaga, na música. Diante de tanto sucesso, é inevitável que surjam inúmeras cópias do original (alguém aí ainda aguenta ver tachas??). Cópias que algumas marcas chamam de inspiração. Mas qual é o limite entre a inspiração e a cópia?


Recentemente, uma polêmica discussão ocorreu no blog De Chanel na Laje, sobre a Birkin de moletom feita pela 284. As bolsas da Chanel também foram muito copiadas há pouco tempo, tanto por marcas famosas, com identidades próprias (ou não) quanto por lojas fast-fashion, que pelo menos cobram pouco pelas cópias/inspirações, comparadas a outras lojas por aí.

Essas últimas são as campeãs no quesito cópia/inspiração. Acredito que serão as mais privilegiadas por essa globalização da moda: como as marcas internacionais geralmente apresentam suas coleções muitos meses antes de colocá-las à venda, as redes de fast fashion possuem tempo de sobra para se apropriar das tendências/possíveis hits e até vendê-las antes. Mas esse assunto é tema para outro post.

Acredito que a diferença entre a cópia e inspiração esteja na essência da própria marca. Ora, uma marca que tenha seu próprio, digamos assim, orgulho fashion, não vai apenas copiar um hit da moda e colocar à venda. Ela vai querer fazer uso desse hit, porém com seu toque criativo de forma relevante. O problema é que esse toque criativo é muito subjetivo.

imagem: OQVestir

Muitos acreditam que as cópias existem apenas quando são exatamente iguais às marcas, inclusive seu logotipo. Mas o que há de tão diferente entre a Chanel original e as outras? Adianta utilizar um material diferente (como o moletom) quando a forma do produto é igual à original? Utilizar o nome de uma estilista para dizer que a está homenageando ao apresentar peças parecidas com as dessa estilista é cópia ou inspiração?

Não tenho resposta para nenhuma dessas perguntas. Somente acho que a identidade própria é fundamental para o sucesso de uma marca. Enquanto ela fizer cópias ou inspirações sem nenhuma inovação relevante, sem nada que destaque realmente sua própria identidade criativa, ela vai continuar sendo apenas mais uma marca, seja ela de fast fashion ou não.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Ah, Paris...

(Pra ler ouvindo La Vie En Rose!)

imagem: Cherry Blossom Girl

Cidade romântica, moderna, intelectual. Cidade das luzes. Quem não se sente inspirado, mesmo que nunca tenha visto de perto, pela torre Eiffel, pelo Arco do Triunfo ou mesmo pela sua rica história? Capital da arte, país de Monet, Renoir, Cézanne, Cartier-Bresson, Edith Piaf, Jean-Luc Godard, Coco Chanel, Yves Saint Laurent, Brigitte Bardot, Lipovetsky.

Inspiração pra vida e pra arte de se vestir.

Acho que ninguém descobriu ainda porque Paris encanta tanto. Mas se você ainda não se sentiu hipnotizado por Paris, não se preocupe, isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde. E pra celebrar a chegada do outono, nada melhor que se inspirar nessa cidade inigualável pra dar aquele toque parisiense ao look.

A gente pode se inspirar nas gurias parisienses, com um pouco de tule, poás, babados, preto e branco, nude, flores, boinas, laços.


Ou a gente pode sonhar com as imagens da cidade, com a sua história, com a sua arte e deixar a inspiração fluir dentro da gente.


Não importa como nem por quê. Mesmo que você não queira, Paris está dentro de nós.

domingo, 21 de março de 2010

Artigo: O mercado gaúcho e a falta de visibilidade

Nessa semana, a notícia sobre o Santa Catarina Moda Contemporânea (através de sua cobertura pelos principais veículos fashionistas do país) e um tweet da RP de moda Juliana Laguna acenderam uma luz de alerta na minha mente. Resolvi fazer aqui uma reflexão que eu já deveria ter feito há muito tempo: Como é a moda no Rio Grande do Sul? Quais são seus problemas e qualidades?

Rödel-La

O fato é que o mercado de moda gaúcho é visto como nulo em termos de relevância para a moda. Não que não haja lojas de roupas por aqui. Há muitas, porém são pouquíssimas as que se afirmam como marcas, grifes de moda. Mas quais seriam os fatores contribuintes para essa apatia?

Cogita-se que o problema esteja nos consumidores gaúchos, apontados como conservadores e resistentes a mudanças, o que seria totalmente paradoxal à moda. Esse perfil, embora antigo, ainda tem um fundo de verdade entre alguns públicos. Porém, ao meu ver, não corresponde aos jovens da capital, supostamente o público-alvo de quase todas as marcas de moda.

Falta de interesse por parte dos estilistas parece também não ser o problema, já que temos bons e criativos criadores (se me permitem a redundância), frutos das diversas faculdades e cursos de moda do estado. O site As Patrícias possui um espaço reservado a eles. Muitos são reconhecidos e respeitados fora do estado, mas não dentro, salvo pelos gaúchos ligados profissional e academicamente à moda.

O que falta para que Porto Alegre pelo menos comece a despontar como mercado realmente criador de moda relevante é dar visibilidade aos nossos estilistas. É aí que o SCMC citado no começo do post entra em cena: nossos vizinhos estão conseguindo sua visibilidade ao investir em seu talento, enquanto nós não possuimos eventos de moda que contribuam verdadeiramente para o mercado de moda gaúcho.

O Mix Bazaar vem perdendo sua importância por falta de renovação e, consequentemente, de interesse do público. Mas e o Donna Fashion Iguatemi? Ah, a semana de moda mais importante do Rio Grande do Sul, amplamente divulgada pelo lamentável monopólio midiático que nós, gaúchos, sofremos. Sim, esse seria o trunfo do Rio Grande do Sul se o evento em questão não fosse organizado e, portanto, limitado em termos de oportunidades, pelo mesmo veículo de comunicação super-poderoso. Tal veículo pode até vender o evento como Fashion (e afinal, marcas como Colcci e Alexandre Herchcovitch contribuem para essa concepção), mas a verdade é que esse é um evento de marketing puramente financeiro, além de não dar quase nenhuma visibilidade aos criadores gaúchos. Quase não há novidades nem contribuições para a moda nacional nesse evento.

A pluradidade das mídias sem dúvidas ajudaria na divulgação e no crescimento do mercado e, portanto, no interesse público. São Paulo, por exemplo, além de diversos veículos tradicionais em igualdade de concorrência como Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo, ainda possui diversos veículos apenas voltados para a moda, como os sites da Lilian Pacce, da Gloria Kalil e o portal FFW, entre muitos outros. E o que temos no RS? Praticamente um único jornal que dedica algumas páginas de domingo à moda, juntamente com um site que, ao invés de falar da moda no RS, copia os assuntos nacionais. No entanto, possuímos ótimos sites focados na moda gaúcha, como As Patrícias e Moda Manifesto. Assim como os estilistas, eles são reconhecidos "lá fora". Poderiam ser mais conhecidos pela maioria do povo gaúcho, mas são procurados mais pelas pessoas que estudam e trabalham com moda.

Se não podemos contar com a mídia tradicional para o crescimento da moda gaúcha, cabe ao próprio mercado e a seus apoiadores se auto-valorizarem, acreditarem que eles possuem algo a acrescentar para a moda nacional e investirem em seus potenciais. As barreiras econômicas podem ser vencidas através da união. Quanto à divulgação, se não possuímos veículos verdadeiramente voltados para a moda na mídia tradicional, a internet está aí para provar que não precisamos esperar eternamente pela caridade de alguém que só tem interesse em seu próprio bolso.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Cores nas passarelas (e nas ruas!)

O inverno, ainda mais quando europeu, é praticamente todo em tons neutros: o preto é o preferido, junto com o cinza, o marrom e outros tons mais claros. Tons neutros são mais elegantes (e mais fáceis de combinar).

Stella McCartney

Mas não é por isso que a gente tem que ter medo, preguiça ou até mesmo vergonha do colorido. Assim como a gente brinca de misturar texturas a gente também pode brincar de misturar cores. São tantos tons, tantas inspirações, que não tem desculpa de "cor não combina comigo". Você pode não ser fã do rosa-choque, mas tenho certeza que um verde-oliva você curte. Pra combinar cores não precisa vestir um casaco laranja e uma calça verde (embora a gente veja isso nas passarelas). Você pode começar com 2 de suas cores preferidas e adicioná-las em detalhes do seu look, por exemplo. O importante é, mais uma vez, o bom senso.

Separei algumas das melhores cartelas de cores dos desfiles Fall 2010 pra todo mundo se inspirar e tentar nas ruas, cada um do seu jeito.

Mulberry

Marni

E se nenhuma dessas imagens te inspirou, entra no Multicolr e experimenta lá primeiro as suas coordenações. Todo mundo soltando a Carrie Bradshaw que há dentro de si!

(No Blog da Oficina de Estilo tem tudo pra quem quiser saber mais.)

segunda-feira, 15 de março de 2010

Marc Jacobs x Balmain

(Juro que é a última vez que eu posto sobre isso, vocês já devem estar cansados. Eu já discuti o assunto aqui, aqui, aqui e aqui).

Se, por um lado, a moda enquanto vestuário não mostrou inovações nesta temporada, por outro ela nos trouxe uma questão interessante enquanto forma de expressão individual. Que tipo de mulher queremos ser? A glamourosa (me desculpem por essa palavra), sexy, feminina ao extremo? Ou a mulher prática, ocupada com suas várias atividades e tarefas, que utiliza a moda menos como uma expressão de feminilidade e mais como expressão de seriedade?

Marc Jacobs, assim como Chloé, Prada, Stella McCartney, Jil Sander e Yves Saint Laurent são do grupo dessa nova proposta, que revive ideais feministas. Uma proposta que vem sido amplamente discutida e muito bem aceita pelos veículos fashionistas. Na teoria (e nas passarelas), ela funciona e tem impacto, mas será que na vida real estamos dispostos a abandonar a fantasia e a sedução da moda em prol de nossas vidas atarefadas?

O movimento contrário já está aí há algum tempo, cujo expoente máximo e extremista é a Balmain: uma mulher sexual, que mostra seu poder através de suas roupas, que quer seduzir e sonhar através de sua imagem. Nessa temporada, ainda tivemos seguidores, tradicionais ou não, dessa idéia, como Oscar de la Renta, Nina Ricci, Giorgio Armani e Vera Wang. Será que ainda estamos com vontade de uma idéia já saturada e que começa a soar até machista diante de novos pensamentos?

Chloé, Stella McCartney, Hermés, Oscar de la Renta, Vera Wang

Claro, existem aqueles que não seguiram nem um nem outro movimento e fizeram sua moda segundo seus próprios conceitos. Mas, para mim, a solução para esse embate está naqueles que propuseram o meio-termo (como Lanvin, Hermés e Christian Dior): uma mulher que seja prática, mas também um pouco vaidosa; que seja séria, mas que se permita sonhar um pouco com o que a moda tem a oferecer.

Nunca fui a favor de extremismos. Entre Marc Jacobs e Balmain há outras mil alternativas, criadas pelos estilistas, pela mídia ou por cada um de nós, para expressar a mulher que queremos ser.

sexta-feira, 12 de março de 2010

E os direitos do animais?

Eu não sou eco-chata. Aliás, (infelizmente) passo longe disso. Mas acho que nessa época todos devem parar para refletir um pouco sobre algumas tendências atuais da moda. Não só em Paris como em Milão, Nova York e até em São Paulo, tivemos uma overdose de peles e penas. Depois de alguns comentários no meu último post, sobre o desfile da Chanel, não pude deixar de me perguntar: será que todas essas peles são falsas?

imagem: Jak & Jil

Segundo o site da Lilian Pacce, as peles que a Chanel desfilou são. Mas e quanto às outras marcas? Lanvin, Givenchy, Valentino, Viktor & Rolf, Jean Paul Gaultier, Reinaldo Lourenço, Fause Haten, Colcci, Versace. Todas essas e muitas outras marcas apresentaram peles. Embore algumas pessoas critiquem, eu não vejo nada de errado em gostar de peles falsas (elas são versões politicamente corretas, apesar de serem semelhantes às "originais"). E pode até parecer hipócrita eu estar aqui defendendo essa causa quando venerei o desfile da Lanvin, por exemplo. Mas sou otimista e a favor do lema "inocente até que se prove o contrário".

Mesmo assim, faço aqui uma pré-crítica, mesmo que cegamente, a todas as marcas que utilizaram as verdadeiras nessa temporada. Não é porque veio de um animal de verdade que a roupa tem mais valor do que uma sintética. Aliás, eu penso exatamente o contrário. E acho que muitas pessoas também.

Além disso, devo fazer um apelo a todas as consumidoras que, assim como eu, devem estar loucas de vontade de vestir seu casaco de pele nesse inverno: não comprem peças feitas com peles e penas verdadeiras. Uma roupa, apesar de ser uma forma poderosa de expressão estética, é apenas uma roupa. Não é preciso matar para se vestir.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Paris Fashion Week Fall 2010 - Valentino e Chanel

Valentino

Uma Valentino jovem, contemporânea, mas ainda assim romântica e elegante. Foi isso que - felizmente - se viu nas passarelas do desfile da marca. Para a construção dessa identidade, Pier Paolo Piccioli and Maria Grazia Chiuri escolheram silhuetas justas e comprimentos acima dos joelhos. As peles, penas, os drapeados e babados e o couro foram os responsáveis pela glamourização da mulher Valentino nessa estação. A cartela de cores veio em tons neutros, como off-whites e marrons e também com um toque tradicional de vermelho. Em suma, a Valentino fez tudo o que está sendo feito nessa temporada, porém com um ar mais romântico.

Chanel

Já a Chanel resolveu explorar ao máximo uma das maiores tendências da temporada: as peles. Além dos conhecidos casacos de pele, Karl Lagerfeld exibiu botas, saias e até calças (!!!) de pele. Tudo isso porque o tema da coleção é o clima polar. Teve também o clássico tweed, o couro e o tricô, tudo em preto, branco e marrom. Em termos de modelagem, nada novo (com exceção de uma hotpant de pele). Me parece que a Chanel anda seguindo a mesma receita da Balmain a cada temporada: o mesmo bolo, com recheios diferentes. A diferença é que Lagerfeld sempre provoca um certo estranhamento com suas polêmicas fashionistas.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Paris Fashion Week Fall 2010 - Lanvin

Lanvin

Se há até agora um desfile esteticamente perfeito na semana de moda de Paris, esse desfile é o da Lanvin. Os looks vieram com todas as vontades da temporada e um styling sutil que casava perfeitamente com as roupas. O acabamento das peças e a cartela de cores afirmaram a elegância como a principal característica do desfile.

Essa elegância foi construída de duas formas: minimalista, na primeira parte e mais luxuosa, na segunda. O minimalismo da Lanvin apareceu com ombros estruturados e plissados interessantes, constituindo a praticidade e seriedade que a temporada requer, porém de uma maneira sedutora. Já na segunda parte entraram as outras vontades da temporada, totalmente opostas à austeridade: plumas, transparência, tecidos brilhosos, texturas e penas, que davam exuberância aos looks.

O mérito de Alber Elbaz está em provar que as duas vontades opostas podem coexistir na mesma época. Existe moda para todo mundo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Reflexões sobre a possível austeridade atual da moda

Há algum tempo nós não vemos inovações significativas na moda. Temos algumas novidades têxteis de vem em quando, mas nada comparado a um período de mudança marcante, como o New Look, por exemplo. O que vimos hoje são principalmente releituras do passado: o exagero dos anos 80, a elegância dos anos 40... quase sempre os vestuários das décadas do passado são adaptados para o presente. Mas e o futuro? Quando vamos presenciar uma nova estética na moda?

Hoje, lendo O Império do Efêmero de Lipovetsky, tive um insight. Talvez por essa falta de inovação, os estilistas estejam se espelhando em uma das maiores mudanças que ocorreu no mundo da moda: a de Chanel e Poiret, nos anos 1920.

Antes dos anos 20, as mulheres se vestiam com muito luxo, ostentação e riqueza de detalhes. A ordem era quanto mais, melhor. Não está acontecendo algo assim atualmente? À exemplo da Balmain, queremos misturar texturas e materiais, quanto mais glamourosos eles forem, melhor. Acontece que, naquela década, Poiret começou uma mudança ao libertar as mulheres do espartilho e Chanel revertou totalmente a lógica: agora menos é mais, sobriedade e praticidade tomaram o lugar do exagero. É isso que vemos hoje em algumas marcas, como Marc Jacobs e Prada.

Talvez os estilistam sintam falta de uma super mudança como foi o minimalismo elegante de Chanel. Talvez tudo isso seja um reflexo da democracia da informação de agora, dessa luta pelo novo, cuja consequência é um movimento inspirado naquilo que Lipovetsky chama de "democratização da moda" dos anos 20.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Paris Fashion Week Fall 2010 - Dries Van Noten, Balenciaga e Balmain

Balmain

Decarnin não quer nem saber de simplicidade, por isso ele trouxe sofisticação ao estilo 80's rocker que vem fazendo na Balmain. No lugar de rasgos, lurex. No lugar de militarismo, estampas barrocas, peles, franjas. Até alguns looks de alfaiataria foram vistos, junto com as ombreiras (será que já não era tempo de abandoná-las?). Senti falta de algo mais diferente. Mas o que importa é que, com a simples estratégia do conceito contrário, a Balmain vai continuar agradando suas consumidoras e todos os pobres mortais que sonham com suas peças de mais de 10 mil reais.


Balenciaga

O desfile da Balenciaga me remeteu sutilmente à Laranja Mecânica. Lançado no começo dos anos 70, a segunda maior obra-prima de Kubrick se passa em um suposto futuro. Um futuro imaginado, porém, com um pouco da estética do tempo real em que o filme foi rodado. Nicolas Ghesquière juntou justamente os anos 70 e o futurismo nesse desfile. Embora a idéia seja a mesma, Ghesquière manteve sua originalidade através de suas formas conhecidas (como as calças sequinhas) e através da incrível mistura de tecidos e texturas novas, provando que o futuro definitivamente é das inovações têxteis.


Dries Van Noten

Mal começou a Paris Fashion Week e a praticidade das "roupas da vida real" já se faz presente também na capital da moda. Dries Van Noten, com peças clássicas, modelagens soltas, comprimentos longos e uma cartela de cores séria trouxe, inicialmente, o que não é nada novo pra nós. O desfile cresceu na segunda parte, quando o estilista misturou estampas e texturas e quando substituiu os tecidos opacos pelos brilhosos. Nessa etapa os looks continuaram práticos, porém ganharam "interessância". É incrível o que um pouco de brilho pode fazer, não é mesmo?